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centro paulista de
alergia e imunopatologia

Alergia alimentar



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Publicado em 27 jan 2022

O que é alergia alimentar?

A alergia alimentar é uma reação adversa a um determinado alimento, envolvendo um mecanismo imunológico com apresentação clínica muito variável, com sintomas que podem surgir na pele, no sistema gastrointestinal e respiratório. As reações podem ser leves, como simples coceira nos lábios, até reações graves que podem comprometer vários órgãos. A alergia alimentar resulta de uma resposta exagerada do organismo a uma determinada substância presente nos alimentos.

O que é reação adversa a alimentos?

É qualquer reação indesejável que ocorre após ingestão de alimentos ou aditivos alimentares. Essas reações podem ser tóxicas e não-tóxicas. As não-tóxicas podem ser de intolerância ou hipersensibilidade.

Exemplo de reação não-alérgica são as reações por ingestão de alimentos contaminados por microrganismos, e que se apresentam agudamente com febre, vômitos, diarreia e geralmente acometem várias pessoas que ingeriram os alimentos contaminados.

A intolerância à lactose é uma reação alérgica?

A intolerância à lactose é uma desordem metabólica onde a ausência da enzima lactase no intestino determina uma incapacidade na digestão da lactose (açúcar do leite), que pode resultar em sintomas intestinais como distensão abdominal e diarreia. Esta intolerância geralmente é dose dependente, e o indivíduo pode tolerar pequenos volumes de leite por dia ou se beneficiar dos leites industrializados com baixos teores de lactose. Portanto, a intolerância à lactose não é uma alergia alimentar apesar de frequentemente confundida pelos familiares e profissionais de saúde. É muito importante esta diferenciação, pois a orientação nutricional é distinta. Enquanto na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite e produtos apenas isentos de lactose, na alergia às proteínas do leite a alimentação não deve conter nada de leite, nem traços ou derivados.

Qual a prevalência da alergia alimentar?

Estima-se que as reações alimentares de causas alérgicas verdadeiras acometam 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos de idade e 2% a 3% dos adultos.

Os indivíduos com outras doenças alérgicas apresentam maior incidência de alergia alimentar?

Pacientes com doenças alérgicas apresentam uma maior incidência de alergia alimentar, sendo encontrada em 38% das crianças com dermatite atópica e em 5% das crianças com quadro de asma.

Quais os fatores envolvidos na alergia alimentar?

A predisposição genética, a potência antigênica de alguns alimentos e alterações no intestino. Existem mecanismos de defesa principalmente do trato gastrintestinal que impedem a penetração do alérgeno alimentar e consequente sensibilização. Estudos indicam que de 50% a 70% dos pacientes com alergia alimentar possuem história familiar de alergia. Se o pai e a mãe apresentam alergia, a probabilidade de terem filhos alérgicos é de 75%.

Quais os alimentos mais frequentemente envolvidos na alergia alimentar?

Qualquer alimento pode desencadear reação alérgica. No entanto, leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim e castanhas, peixe e crustáceos são os mais envolvidos. A sensibilização a estes alimentos (formação de anticorpos IgE) depende dos hábitos alimentares da população. O amendoim, os crustáceos, o leite de vaca e as nozes são os alimentos que provocam reações graves (anafiláticas)com maior frequência.
Os alimentos podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes podem induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo indivíduo. O paciente alérgico ao camarão pode não tolerar outros crustáceos. Da mesma forma, pacientes alérgicos à castanha de caju têm maior chance de reagir ao pistache.

E quanto aos corantes e aditivos alimentares?

As reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são extremante raras, difíceis de serem comprovadas. O corante artificial tartrazina (FD&C amarelo#5), sulfitos e glutamato monossódico são relatados como causadores de reações. A tartrazina pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas enquanto o glutamato monossódico pode estar presente nos alimentos salgados como temperos (caldos de carne ou galinha). Os sulfitos são usados como preservativos em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados).

Quais as principais manifestações clínicas da alergia alimentar?

São mais comuns as reações que envolvem a pele (urticária, inchaço, coceira, eczema) e o aparelho gastrintestinal (diarreia, dor abdominal, vômitos). Manifestações mais intensas, acometendo vários órgãos simultaneamente como pele e trato respiratório (anafilaxia), também podem ocorrer.
Nas crianças pequenas, pode ocorrer perda de sangue nas fezes, o que pode ocasionar anemia e retardo no crescimento. Sintomas respiratórios (tosse, sibilância e rinite) isolados são extremamente incomuns.

Qual a importância da alergia alimentar na dermatite atópica?

Segundo alguns autores, a alergia alimentar está presente em 38% das crianças com dermatite atópica moderada ou grave.
A dermatite atópica se apresenta com um quadro de coceira de intensidade moderada a grave, irritabilidade, escoriações provocadas pelo ato de coçar a pele, ressecamento generalizado da pele e eczema simétrico nas dobras dos cotovelos e joelhos, pescoço, face e superfície extensora dos braços e pernas. Os alimentos mais envolvidos são leite de vaca e ovo.

Como tratar a alergia alimentar?

Até o momento, não existe um medicamento específico para prevenir a alergia alimentar. Uma vez diagnosticada, são utilizados medicamentos específicos para o tratamento dos sintomas (crise), sendo de extrema importância fornecer orientações ao paciente e familiares para que se evite novos contatos com o alimento desencadeante. As orientações devem ser fornecidas por escrito visando a substituição do alimento excluído e evitando-se deficiências nutricionais até quadros de desnutrição importante, principalmente, nas crianças. O paciente deve estar sempre atento verificando o rótulo dos alimentos industrializados buscando identificar nomes relacionados ao alimento que lhe desencadeou a alergia. Por exemplo, a presença de manteiga, soro, lactoalbumina ou caseinato apontam para a presença de leite de vaca. Todas as orientações devem ser fornecidas aos pacientes e familiares.

O que fazer caso venha ocorrer a ingestão acidental do alimento?

A exclusão de um determinado alimento não é tarefa fácil e a exposição acidental ocorre com certa frequência. Os indivíduos com alergia alimentar grave (reação anafilática) devem portar braceletes ou cartões que os identifiquem, para que cuidados médicos sejam imediatamente tomadas. As reações leves desaparecem espontaneamente ou respondem aos anti-histamínicos (antialérgicos). Pacientes com história de reações graves devem ser orientados a portar medicamentos específicos (adrenalina), mas é obrigatório uma avaliação em serviço de emergência para tratamento adequado e observação, pois em alguns casos pode ocorrer uma segunda reação, tardia, horas após.

O paciente que apresenta reação a determinado alimento poderá um dia voltar a ingeri-lo?

Geralmente as alergias a leite, ovo e soja são resolvidas até a adolescência. O teste cutâneo permanece positivo apesar do aparecimento da tolerância ao alimento. A sensibilidade ao amendoim, nozes, peixe e camarão raramente desaparece. O seguimento é realizado com a dosagem de IgE sérica específica (no sangue) periodicamente. Quando os níveis começam a diminuir é o momento de testar se a alergia está resolvendo. Neste teste, chamado de teste de provocação oral, o indivíduo recebe o alimento no qual é alérgico em doses padronizadas a cada 15 minutos, precedido de avaliação clínica rigorosa, e deve ser realizado por médico habilitado e em ambiente onde seja possível manejar reações alérgicas graves como uma anafilaxia.

Existe algum meio de prevenir a alergia alimentar?

Infelizmente não. No entanto, atualmente a exposição oportuna dos pacientes aos principais alérgenos no momento da introdução de alimentação complementar aos seis meses parece proteger das alergias alimentares. O aleitamento materno deve ser sempre estimulado. Os pacientes de alto risco de alergia alimentar (pacientes com dermatite atópica moderada a grave, alergia alimentar ou filhos/irmãos de indivíduos com doenças alérgicas) também devem ser expostos a todos os alimentos aos seis meses sem necessitar adiar a introdução de alguns alimentos como forma de prevenção.
O benefício do uso de formulas infantis conhecidas como hipoalérgicas para recém-nascidos que não podem ser amamentados ao seio ainda não está bem estabelecido.

Diagnóstico

HISTÓRIA CLÍNICA

A história clínica tem baixo poder de resolução diagnóstica. Deve-se questionar:

  • a. Qual alimento é suspeito de provocar a reação;
  • b. O intervalo entre a ingestão do alimento e o surgimento dos sintomas;
  • c. Quais foram os sintomas;
  • d. Se os sintomas ocorrem sempre que o alimento é ingerido;
  • e. Se há melhora ou desaparecimento dos sintomas após a suspensão do alimento
    suspeito;
  • f. Se há re-surgimento dos sintomas após a re-introdução (acidental ou provocada) do
    alimento suspeito.

A descrição dos sintomas deve ser compatível com as manifestações de alergia alimentar, descritas anteriormente.
O exame físico é útil para caracterizar as manifestações tipicamente alérgicas.

TESTES CUTÂNEOS

Os testes cutâneos imediatos devem ser realizados por alergista. Isoladamente não confirmam o diagnóstico. Apenas detectam a presença de anticorpos IgE específicos para os
alimentos testados, demonstrando sensibilização.

Devem ser testados apenas os alimentos suspeitos. Painéis de testes com inúmeros alimentos não devem ser realizados. A positividade do teste cutâneo pode persistir por muito
tempo após o desaparecimento do quadro clínico.

Os testes cutâneos de contato com alimentos têm a finalidade de investigar as reações tardias, mediadas por células T. Serão necessários mais estudos controlados, utilizando esse
método, para se estabelecer sua aplicabilidade.

DOSAGEM DE IGE ESPECÍFICA

Os testes in vitro (Unicap®) servem para dosar a IgE específica para os alimentos suspeitos. Também não têm valor diagnóstico, apenas demonstram se o paciente tem IgE específica para determinado alimento. Painéis de testes para inúmeros alimentos não devem ser realizados, pois pode haver resultados positivos que não se relacionam às manifestações clínicas.

DIETA DE EXCLUSÃO

Frente uma história e exame físico sugestivos de alergia alimentar, deve ser realizada dieta de exclusão do alimento suspeito. A dieta de exclusão deve ser realizada com número
limitado de alimentos (1 a 3) e de acordo com a história clínica. Após duas a seis semanas de exclusão, os sintomas devem desaparecer. Se os sintomas desaparecerem, um teste de provocação oral deve ser feito para se confirmar o diagnóstico.

Atenção! Crianças não devem ser submetidas a dietas de exclusão prolongadas, sem provocação oral que confirmem, definitivamente, que as manifestações clínicas foram
provocadas pelo alimento excluído. Para crianças exclusivamente alimentadas com leite materno, deve-se suspeitar de sensibilização através do leite materno. Nestes casos a mãe deve submeter-se à dieta de exclusão do alimento suspeito.

TESTES DE PROVOCAÇÃO ORAL

Uma vez que os sintomas e sinais desaparecem após a exclusão do alimento suspeito, faz-se a provocação oral administrando o mesmo alimento ao paciente. O teste é considerado
positivo se os sintomas ressurgem, tal como eram antes da eliminação do alimento da dieta.

Os testes de provocação oral são padrão-ouro para comprovação diagnóstica. Também são úteis para se constatar se o paciente já se tornou tolerante ao alimento. São contraindicados quando há história recente de reação anafilática grave e devem ser realizados em ambiente hospitalar.

ENDOSCOPIA E BIÓPSIA

São úteis para avaliar pacientes com manifestações não mediadas por IgE

Referências

  • 1. Revista ASBAI
  • 2. Roehr CC, Reibel S, Ziegert M, Sommerfeld C, Wahn U, Niggemann B. Atopy patch tests, together with determination of specific IgE levels, reduce the need for oral food challenges in children with atopic dermatitis. J Allergy Clin Immunol. 2001 Mar;107(3):548-53.
  • 3. Fuglsang G, Madsen C, Saval P, Osterballe O. Prevalence of intolerance to food additives
    among Danish school children. Pediatr Allergy Immunol. 1993 Aug;4(3):123-9



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